A data marca o primeiro concurso oficial entre escolas de samba, ocorrida no Rio de Janeiro em 1935.
A importância da oficialização dos desfiles de escola de samba é que desde então o Poder Público passou a investir recursos públicos nessa manifestação cultural que é consideradoum dos maiores espetáculos do mundo, junto com outros eventos grandiosos do carnaval brasileiro.
O reconhecimento oficial das escolas de samba serviu para atrair mais patrocínios e admiradores, mas fundamentalmente permitiu que as pessoas que movimentam essa atividade deixassem a clandestinidade e a criminalização que havia naquela época por parte das autoridades e por parte da sociedade.
Poucos sabem, mas o samba era uma música abominada quando surgiu no começo do século XX, por muitos era associado ao “crime de vadiagem”, então existente na legislação penal brasileira. Não é difícil concluir que a perseguição vinha do fato de o ritmo ter sido criado por negros, que acabavam de ver extinta a vergonhosa escravidão vigente até o ano de 1888, mas não o preconceito e a falta de políticas públicas que amenizassem as consequências danosas do regime escravista que perdurou por mais de 300 anos no País, até hoje não solucionados.
As escolas de samba surgiram em por volta de 1920, com os primeiros desfiles começando em 1927, porém a oficialização só veio a ocorrer em 2 de março de 1935, mostrando que a luta das agremiações acabou tendo sucesso, muito pelo espírito festivo da população brasileira que não resistiu à tamanha empolgação que envolve toda a celebração, apesar de os grandes destaques dos desfiles atuais sejam pessoas de fora das comunidades que vivem o dia a dia dessas entidades.
Quem se encanta com a beleza e alegria irradiada pelas escolas de samba não têm ideia da seriedade que há nesse grande negócio que gera renda a milhares de profissionais e para as cidades que promovem a festa.
A importância de lembrar a data é porque ainda existe um longo caminho para extirpar de vez a chaga do preconceito e da perseguição à população negra, sendo emblemático dessa situação que mais de 63% da população carcerária no Brasil seja de pessoas negras, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional de 2017 ou que 83% dos cidadãos presos injustamente por reconhecimento fotográfico em delegacias também sejam negros. Se um dos símbolos da nação brasileira, o samba, chegou a ser criminalizado simplesmente por ter sido criado por negros, o que dizer dos direitos humanos e tantos outros que ainda não são oferecidos a essa parcela significativa da sociedade, consequência ainda da hedionda escravidão que vigorou no País por séculos.
Haverá um dia em que não será mais notícia que um negro alcance uma cadeira em uma universidade de medicina, de direito, de engenharia e todas as demais graduações ou que a notícia alvissareira seja que foi cessado o morticínio de jovens negros nas favelas por razões desconhecidas ou suspeitas genéricas, quando próprios integrantes das corporações de segurança pública admitem que o tratamento dispensado à população que deve ser protegida é um nas periferias e outro completamente diferente nas ditas regiões nobres das cidades. Para muito além dos que convencionaram nominar essa tragédia de “mimimi”, esses são fatos graves com os quais ainda temos que conviver.
Enquanto as boas novas não chegam, é preciso lembrar de todas as lutas do povo negro para obter sua plena liberdade, que não veio com a abolição em 1888, e esta da oficialização dos desfiles das escolas de samba é apenas uma delas. As datas comemorativas, sem exceção, deverão ser lembradas sempre, mesmo depois de todas as conquistas.
CARLOS EDUARDO MOREIRA Membro da Comissão da Igualdade Racial57ª Subseção de Guarulhos da Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo